A enxaqueca em números
A enxaqueca é uma das condições neurológicas mais comuns e incapacitantes do mundo.
Estima-se que cerca de 15% da população brasileira conviva com o problema — milhões de pessoas afetadas diariamente.
Globalmente, a prevalência é semelhante, com maior impacto em mulheres entre 20 e 50 anos, período de maior atividade profissional e familiar.
De acordo com o estudo Global Burden of Disease (GBD 2021), a enxaqueca está entre as 10 principais causas de incapacidade no mundo e é a segunda maior causa de anos vividos com incapacidade em mulheres abaixo dos 50 anos.
Diferente da dor de cabeça comum, a enxaqueca se manifesta em crises intensas e incapacitantes, frequentemente acompanhadas de náuseas, vômitos e sensibilidade à luz e ao som.
O impacto vai muito além da dor: reduz produtividade, prejudica a vida social e causa sobrecarga emocional.
Sintomas principais
- Dor latejante, geralmente em um lado da cabeça.
- Duração de 4 a 72 horas.
- Náuseas, vômitos, sensibilidade à luz e ao som.
- Em alguns casos, presença de aura: alterações visuais, formigamento, dificuldade de fala.
Fatores desencadeantes
As crises de enxaqueca podem ser precipitadas por diferentes gatilhos, como:
- Estresse.
- Privação ou excesso de sono.
- Alterações hormonais (comum em mulheres).
- Certos alimentos (chocolate, vinho, cafeína em excesso).
- Mudanças climáticas.
Nem todos os pacientes têm os mesmos gatilhos, por isso o autoconhecimento e o acompanhamento médico são fundamentais para identificar padrões.
Por que a enxaqueca acontece?
A enxaqueca é considerada um tipo de dor nociplástica, na qual o sistema nervoso central apresenta uma hiperexcitabilidade.
Nesse processo, há alterações nos vasos sanguíneos cerebrais, em neurotransmissores como serotonina e dopamina e em mecanismos inflamatórios, o que desencadeia a crise dolorosa.
Essa combinação ajuda a explicar não só a dor, mas também os sintomas associados — como sensibilidade à luz, sons e cheiros, além de fadiga e alterações cognitivas.
Tratamentos convencionais
- Medicamentos abortivos, usados durante a crise (analgésicos, anti-inflamatórios, triptanos).
- Medicamentos preventivos, indicados quando as crises são frequentes (beta-bloqueadores, anticonvulsivantes, antidepressivos).
- Mudanças no estilo de vida, como regularidade do sono, prática de atividade física e alimentação equilibrada.
Embora eficazes, nem sempre esses recursos oferecem controle completo, e alguns pacientes sofrem com efeitos colaterais.
Acupuntura e neuroestimulação na enxaqueca
Evidências sobre acupuntura
Nos últimos anos, diversos estudos de alta qualidade reforçaram a eficácia da acupuntura na enxaqueca.
- Redução da frequência, intensidade e duração das crises.
- Melhora na qualidade de vida e na saúde mental (ansiedade e depressão).
- Meta-análises recentes mostram que a acupuntura é superior ao placebo e, em alguns casos, tão eficaz quanto medicamentos preventivos, com efeitos que podem durar até três meses após o tratamento.
- Protocolos de cerca de 16 sessões em 1,5 a 2 meses têm mostrado melhores resultados.
Além disso, a acupuntura é segura e bem tolerada, com risco mínimo de efeitos adversos.
Evidências sobre neuroestimulação
A neuroestimulação é outro recurso que vem ganhando espaço:
- Eletroacupuntura: potencializa os efeitos da acupuntura tradicional.
- Estimulação neuromuscular: aplicada em nervos e/ou músculos específicos para reduzir dor
- taVNS (estimulação transcutânea do nervo vago auricular): resultados promissores em pacientes com crises frequentes ou refratárias.
Essas técnicas, por não envolverem medicamentos, são especialmente úteis para quem não tolera bem fármacos ou tem contraindicações.
Conclusão
A enxaqueca é uma condição incapacitante, mas tratável.
Combinando medicamentos, ajustes de estilo de vida e recursos não farmacológicos, como acupuntura e neuroestimulação, é possível reduzir crises e recuperar qualidade de vida.
Se você convive com enxaqueca, converse com seu médico sobre opções integrativas que podem complementar o tratamento e ajudar a retomar o controle da sua rotina.
Sobre a Clínica Trattar
A Clínica Trattar é especializada no tratamento integrativo da dor, unindo acupuntura, neuroestimulação e educação em dor a recursos da medicina moderna. Nosso foco é oferecer abordagens baseadas em evidências, em um ambiente acolhedor e humanizado.
Referências
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